As grandes instalações de Rodrigo Bueno poderiam ser revisitações em chave contemporânea dos penetráveis de Hélio Oiticica. Deles, recuperam e atualizam a euforia participativa, e principalmente, um autêntico engajamento ecológico (no sentido amplo, social, que o termo carrega) capaz de transcender o momento efêmero da exposição para fazer-se mensagem – quase um manifesto de uma visão do mundo que o artista encarna de maneira apaixonada. Aqui nessa floresta que contudo, quase paradoxalmente, se revela surpreendentemente geométrica, o observador é convidado a parar e refletir, se quiser sobre a artificialidade da natureza e a natureza do artificial. ” Texto JACOPO CRIVELLI
O trabalho no CAB – Centre d’Arts de Bruxelles: Couves de Bruxelas.
O pátio interno do CAB brota de dentro para fora. O mobiliário de estar ocorre em sofás, cadeiras, mesas e boiseries de segunda mão. Um jogo entre memória e nascimento onde a origem vem visitar o resultado, onde o diálogo começa à medida que a familiaridade dos assuntos se rende ao fluxo de padrões que se fundem. É um vestiário que antecipa a obra que continua a sua contaminação dentro do espaço expositivo.
A fricção entre Cultura e Natureza abrange todos. Reverbera em torno da ideia de expandir os limites da arquitetura, incentivando a subversão de funções. Móveis e objetos encontrados dão origem a brotos e alguma umidade habitada por fungos ajuda a revelar o estado da matéria, a origem de sua estrutura.
Duas grandes gravuras, todas personalizadas em sua edição individual, cada uma documenta uma deterioração visceral de uma página de livro de arte, onde efeitos do tempo nas reproduções de imagens icônicas de pinturas como Cézanne e Degas, intensamente coautoradas por cupins e umidade, trazem ao espectador um fator perturbador, que enfatiza o poder da natureza reivindicando seu espaço. Imagens clássicas, todas respeitáveis, mas já comprometidas por um sutil levante de pequenos seres que prosperam no corpo do papel, insetos e fungos que insistimos em tratar como nojentos, compõem na verdade a própria seiva da vida. Estas obras, rodeadas de móveis recolhidos em Bruxelas e de objectos provenientes de doações, ou encontradas abandonadas nas esquinas, são aqui despertadas, induzidas a regressar à vida, quer pelas suas novas formas híbridas, quer por fazerem explodir a vida ainda adormecida após a sua transformação industrial ou artesanal. processos. As obras celebram o fato de que, afinal, não existe morte, mas sim uma mudança contínua, uma cadeia de estados e transmutações.