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Sobre o artista
Rodrigo nasceu na cidade de Campinas em 1967 e graduou-se em Comunicação Social.
Na década de 90 muda-se para Nova Iorque para fazer um mestrado em Artes Visuais na School of Visual Arts e durante esta estadia, realiza um estudo de religião comparada e se interessa pela cultura asiática. Antes de acabar o mestrado em Nova Iorque, passa uma temporada na Índia e se muda para São Francisco, retoma os estudos e inicia um mestrado em Arte e Consciência na JFK University. Os estudos direcionados ao universo holístico, de autoconhecimento, o coloca na descoberta da arte como cura, como fundamento de matriz crítica e afirmação identitária.
Neste percurso, Rodrigo desperta em si a valorização pela sua história, pelo seu país, pelo seu povo, e especialmente, às pontes que unem a humanidade como parte da natureza. Em sua bagagem familiar, entre os sabores de Minas Gerais, Bahia e Mato Grosso, o artista reaviva costumes de aprendizado, recolhe no passado, acorda no presente a espontaneidade da poesia, a canalização de conceitos sobre a subjetividade da matéria que vai além do nosso uso comum, onde tudo é comprado, consumido e jogado fora.
Em 2000, ele retorna ao Brasil e cria o Ateliê Mata Adentro, espaço que hoje é além de ateliê, casa, escola e arteterapia. A casa/ateliê torna-se um mocambo, uma espécie de residência artística, um verdadeiro polo de reflexão e experimentação de artes integradas. Um laboratório de criatividade onde elementos como a música, a palavra, a comida, o corpo e a espiritualidade, orquestravam junto às pinturas e esculturas, potentes espaços dinâmicos, pontes entre a natureza e os conceitos que fundamentam sinestesia entre o humano e seu entorno. Um lugar de encontros periféricos, entre jovens e figuras ancestrais de todas as artes.
As paredes da casa ateliê brotam composições mistas de resíduos da cidade: papel, madeira, plantas e pintura dialogam entre si. A cadeira, antes abandonada, é plantada e ganha vida literalmente. “Se um objeto tem uma função, mas depois ele adquire uma nova função, eu estou dando um novo ciclo de vida, ou uma ‘re-função’ ”, explica Rodrigo. E nesse movimento, tudo ao redor, nos faz pensar quem já fomos um dia, onde estamos e para onde vamos.
Mata Adentro é um nome escolhido para expandir a autoria de um único artista em ações de processos coletivos, pois somos indivíduos inseridos em ambientes colaborativos. O estúdio tem mostrado seu trabalho no país e no exterior há mais de vinte anos de obras em sua maioria tridimensionais, vivas e imersivas voltadas a cura vibracional e a experiências educativas.
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Rodrigo Bueno, 1967
Born in Campinas, São Paulo, Brazil.
Visual artist coordinator of the atelier Mata Adentro, a home and working space, located in Lapa district in São Paulo.
Mata Adentro is a name chosen to expand the authorship of a single artist into actions of collective processes. The words Mata Adentro stand as a call to the inner woods, an invitation to the essential nature seen as symbolic matter and as the subconscious as well. Mata Adentro is a lab of languages risen out of nature’s memory activations. The studio creates art as objects, installations, and experiences to sensitize the human to the dynamics of life. Art as keys of multidimensional senses that blossom in the diversity of identities, contained in the legacy of the natural world, source of culture and resilience.
The studio has broken part of its concrete floors so time and soil are comfortable with each other, a place where reclaimed materials, mainly wood, iron, water, and plants collected from urban waste, are transformed into installations, sculptures, paintings, and environments set to nurture technologies of the encounter and other tools that speak of the continuity of life, the axis that sustains wholeness and culture as a constant movement.
The studio has been showing its work in Brazil and abroad for over twenty years, it is a production of mostly three-dimensional, vivid, and immersive works that relate to the oneness of nature and humans, interweaving ancestral narratives and fluid energies.
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Curriculum
Rua Albion, 549, São Paulo, SP, 05077-130, Brasil
Cel/whatsapp + 55 11 99218 0038
Prêmios:
2020 – Indicado ao Prêmio Pipa
2019 – Vencedor 7 Prêmio Marco Antonio Vilaça
Formação:
1998 – Pós Graduação em Arte e Consciência, Universidade John F. Kennedy, CA, EUA – imcompleto
1996 – Pós Graduação em Artes Plásticas, School of Visual Arts, Nova York, EUA- imcompleto
1989 – Graduação em Comunicação Social, ESPM, São Paulo-SP.
Exposições Individuais:
2023 – Pedrinha Miúda, galeria Marília Razuk, São Paulo, SP
2023 – Clareira, SESC CARMO, São Paulo, Brasil
2022 – Désormais, Espace Frans Krajcberg, Paris, França
2019 – Clareira, Loja Hermés, Shopping Iguatemi, SP, Brasil
2019- SOLO MOITAS Art Rio, curadoria Sandra Hegedus, Rio de Janeiro, Brasil
2019 – Convivio, Sesc Ribeirão Preto, Feira Literaria Ribeirão Preto, SP, Brasil
2018 – Hora do Levante, curadoria Josué Mattos, CAC W Ribeirão Preto , SP
2018 – Sai da Moita, curadoria Fábio Delduque, Sesc Presidente Prudente, SP
2017 – The Revenant Room (Recanto Catiço), Solo Project Position, Miami Basel, EUA
2016 – Zona da Mata Goethe Institut, São Paulo, SP
2016 – Solo project Art Bo, Bogotá, Colômbia
2016 – A Ferro e Fogo – Galeria Marília Razuk, São Paulo, SP
2016 – Solo project Art Lima “Lo que no tiene de Inga, tiene de de Mandinga”, Lima, Peru
2015 – Rebentos – Work.in.Process – Galeria Emma Thomas, São Paulo, SP
2014 – Seleção especial para o Prêmio de Pintura Arcos Dorados, ART BA, Buenos Aires, Argentina
2013 – Vida Nova, curadoria Agnaldo Farias, Galeria Emma Thomas, São Paulo, SP
2013 – Sangoma, Capulanas Cia de Are Arte Negra, Jardim São Luis, São Paulo, SP
2013 – Terra Prometida, SESC Interlagos, São Paulo, SP
2012 – Matuto ao Cubo, Estúdio Buck, São Paulo, SP
2012 – Festival Encantado, Alto da Boa Vista, Rio de Janeiro, RJ
2011 – Trato Letrado, SESC Vila Mariana, São Paulo, SP
2011 – Proyecto 100 años Bellas Artes, Medellín, Colômbia
2007 – Jardín del Encuentro, MDE07, Medellín, Colômbia
2003 – Batida Sagrada, Mata Adentro, São Paulo-SP
2002 – Ageum do Batuque, Favela Chic, Paris, França
1997 – Gêmeos, Galeria Passado Composto, São Paulo-SP
Exposições Coletivas:
2023 – ‘Brasil Futuro: as Formas da Democracia’ curadoria Lilia Scwarcz, Brasilia, Belém, Salvador, Brasil
2023 – Elementar: Fazer Junto, MAM São Paulo, Brasil
2022- Tridimensionalidades Brasileiras, SPARTE, SP
2021- Zona da Mata, curadoria Ana Magalhaes, Marta Bogéa, e Cauê Alves, MAM sala de vidro, de 26 outubro 2021 a Fevereiro 2022 e no MAC USP de Junho de 2021 a Fevereiro de 2022
Enciclopédia Negra, curadoria Lilia Schwarcz, Jaime Lauriano e Flávio dos Santos Gomes, Pinacoteca do Estado, SP, Brasil
2019 – Vencedor 7o Prêmio Marco Antonio Vilaça, FAAP, SP, Brasil
2019- Curupira, Arte Ambiental, MUBE, Curadoria Cauê Alves, SP, Brasil
2019- Vai Vém, CCBB, SP, Brasil + 5 CAPITAIS, Curadoria Raphael Fonseca2019 – Ounje – Ciclo Orixás, SESC Ipiranga, São Paulo, SP
2018 – Sobre a cor da sua pele, Centro Cultural Dragão do Mar, Fortaleza, CE
2018 – Símbolo, curada por Catharina Duncan, Galeria Leme, São Paulo, SP
2017 – Implosão, Trans(relacion)ando Hubert Fichte, MAM Salvador, BA e Centro Cultural Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, RJ
2017 – “Nada levarei quando morrer, aqueles que me devem cobrarei no inferno”, Curadoria Solange Farkas e Gabriel Bogosian, Associação Vídeo Brasil, Galpão Vila Leopoldina, São Paulo, SP
2016 – Transparência e Reflexo, MUBE curadoria Cauê Alves
2016 – Instalação “Barravento”, Provocar Urbanos, SESC Vila Mariana , São Paulo, SP
2015 – Cruzeiro do Sul, Paço das Artes, USP, curadoria Gabriel Bogosian
2014 – Made By….Feito por Brasileiros, Antigo Hospital Matarazzo, Curadoria Marc Pottier, São Paulo, SP
2014 – SAM Art Projects au Centre d’Art de Bruxelles, Bruxelas, Bélgica
2014 – Experimentando Espaços, curadoria Agnaldo Farias, Museu da Casa Brasileira, São Paulo, SP
2014 – Repentista, Nosco Gallery, Londres, Reino Unido
2013 – Nosco Gallery VISTA Project, Nosco Gallery, Art Rio, Rio de Janeiro, RJ
2013 – Parque das Transgressões, curador Agnaldo Farias, Galeria SIM, Curitiba, PR
2013 – My waste is your waste, curadoras Joanna van der Zanden e Mara Gama, MOTI Museum of Breda, Holanda
2012 – Arte e Gastronomia, Oferenda, curador Felipe Chaimovitch, Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP
Em Aberto, Phosphurus, curadora Maria Monteiro, São Paulo, SP
2010 – Quilombo de Solano, Biblioteca Alceu Amoroso Lima, São Paulo, SP
2010 – Ponto de Equilíbrio, curadores Agnaldo Farias e Jacopo Visconti Criveli, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP
2010 – Ecológica, Museu de Arte de São Paulo, curador Felipe Chaimovitch, São Paulo, SP
2009 – Visumix, curadoria de Fábio Delduque, Praça Roosevelt, São Paulo, SP
2009 – Pintura e Instalação ao vivo, SPFW, rampa do prédio da Bienal de São Paulo, SP
2008 – Cape Africa Platforms, Cidade do Cabo, Africa do Sul
2008 – 28º Bienal de artes de São Paulo, SP
2008 – Mboraí Ocara, Galeria Vermelho, São Paulo, SP
2007 – Homens Trabalhando, galeria Florenceantonio.com, São Paulo, SP
2007 – Casa dos Macacos, galeria Florenceantonio.com, São Paulo, SP
2007 – Centenário Solano Trindade, Teatro Popular, Embu, SP
2006 – Espaço SPFW/TIM/Julho, SP Fashion Week, São Paulo, SP
2003 – Passado Composto Século XX, São Paulo, SP
2002 – 10º Salão de Arte Contemporânea, Edificio Copan, São Paulo, SP
1998 – ReFavela, Favela Chic, Paris, França
1998 – Hybrid Time Art Festival, JFKU Art Annex, Berkeley, CA, EUA
1997 – Open Studios, São Francisco, CA, EUA
Coleções Públicas:
Pinacoteca do Estado de São Paulo
Museu de Arte Moderna de São Paulo
Residências:
2019 – Djarassi foundation, CA, USA
2007 – Encuentro Internacional de Medellin, Prácticas Artísticas
Contemporâneas, Castilla, Medelin, Colômbia.
2003 – Instituto Sacatar, Itaparica, BA
2003 – Centro de Arte Contemporânea do Caribe, Port of Spain, Trinidad e Tobago
Oficinas:
2022 – Cultivo Criativo, MAM SP e Ateliê Mata Adentro
2018 – Experiência Criativa, Escola Móbile no Ateliê Mata Adentro, SP
2012- Criança é Vida, Associação Cairuçu, Ponta Negra, Parati, RJ
2009 – A Cabana, Centro Cultural Oswald de Andrade, São Paulo, SP
2002 – Coordenação Música e Graffiti, Fundação Gol de Letra + Federation Lèo Lagrange, França), São Paulo, SP
2000 – Hip Hop e seus Elementos, Associação Cultural Monte Azul, São Paulo, SP
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Por Camile Sproesser
Com pinturas e criações vivas, o artista que adentra a mata urbana para repensar os valores da humanidade, concentra força na experiência coletiva e na busca da transformação das qualidades artísticas
A original visão artística de Rodrigo Bueno se expressa através de arte pictórica, filosofia, espiritualismo, meio ambiente e política. Apesar de ser graduado em comunicação e ter pós-graduação em Arte e Consciência na John F. Kennedy University da Califórnia, e Belas Artes na School of Visual Arts, em Nova Iorque, sua formação fundamental não decorre da prática artística no circuito, mas da ação direta em diferentes frentes periféricas. A Mata Adentro, nome do lar e ateliê de Rodrigo Bueno, está viva e têm suas raízes nutridas por atividades artísticas há seis anos.
O registro iconográfico de artistas viajantes no período Brasil colônia, como Jean-Baptiste Debret, Johann Moritz Rugendas e Albert Eckhout, é grande fonte de reflexão em sua busca pela criação de uma obra viva. Suas pinturas têm como suporte, resíduos colhidos nas ruas, como plantas e madeiras, e retratam o universo da mata urbana. Num ciclo que dialoga com a história do Brasil e do mundo, Rodrigo Bueno refina a visão sobre a sociedade em que vivemos com pinceladas certeiras e cores vivas.
Sua obra possui a característica dorsal das grandes obras de arte: existe por si só, transcende a materialidade e abre a visão para um novo universo. Em uma sala de espelhos que incorporam a memória comum da terra, o artista insiste em desarmar o que o olhar colonizado chama de exótico e concebe a relação entre a idéia de mata anterior e memória interior.
“A mata anterior significa a força verde que rompe o asfalto e é a fonte de inspiração que ameaça o concreto efêmero da verdade urbana. É a vitalidade do solo que come de volta a cidade que o engoliu. A memória interior é o olhar, o sentimento intuitivo que descreve a identidade cotidiana e popular, de sabedoria ancestral.
<br>Cada resíduo desperdiçado nas caçambas da cidade contém uma memória interior, o reflexo de nós mesmos, no espelho de nossa relação com o planeta e os valores que sustentam a contemporaneidade. A valorização da natureza e a sensibilização do espaço urbano são correntes de resistência, de reencontro do homem com a sua própria origem”, explica o artista.
Outro aspecto essencial na obra de Bueno é a exaltação e o respeito pelas origens, “o passado está ativo enquanto nós somos parte de um processo histórico inacabado, em movimento. Negar o que já passou, dissimular o fundamento de onde pisamos, é interromper o fluxo de nossa própria criação e nos colocar de fora da autonomia de escolha do nosso destino”, reflete.
A investigação do trabalho de Rodrigo Bueno celebra a família de raças da humanidade e sugere familiaridade com sentidos mais íntimos e generosos, na troca com outros seres vivos e com o entorno. “A herança afro-indígena forma o alicerce oculto da cultura brasileira. Somos um conglomerado de nações mestiças esparsas pelo continente, no trabalho constante para sustentar os desperdícios de um sistema econômico pouco associado à cultura de costumes”, afirma Bueno.
A nutrir-se também em movimentos musicais de raiz, Rodrigo Bueno promoveu encontros intitulados ‘Batida Sagrada’, onde integrantes da velha guarda da embaixada do samba, junto a figuras essenciais na história do soul, como Nelson Triunfo, se encontravam na Mata Adentro para contar histórias e fazer música. E foi a partir destes encontros que a conceitualização da dinâmica dos elementos de manifestação criativa resultaram na concepção da teoria de Cultura em Constante Movimento.
“O hip hop representa o conjunto de manifestações da cultura de rua e se relaciona com o constante movimento inerente às sociedades urbanas, que ao se renovar, se nutre de sua ancestralidade para fortalecer elementos de música, poesia, dança e artes visuais. Antes de ser um simples objeto reduzido pela indústria de comunicação, o hip hop é fonte de códigos mestiços e novas linguagens sociais”, comenta.
Ainda na Califórnia, o artista entrou em contato com os ensinamentos de Chögyam Trungpa através da dharma arte, uma prática que influencia diretamente na percepção de como se relacionar com a criação. Um dos fundamentos essenciais consiste em interagir ativamente com o aqui e agora, no caminho inverso ao isolamento condicional da mente para o passado ou futuro longínquo. De acordo com Chögyam Trungpa, espiritualidade é um termo particular que significa ‘lidar com a intuição’, fator com o qual Rodrigo Bueno se relaciona de forma direta e profunda em suas expressões.
Na linha de pesquisa de Hundertwasser – artista austríaco que formulou o Manifesto da Terra contra a arte feita por pessoas desenraizadas, nos anos 50 – Bueno tem como válvula impulsionadora a renovação do papel da arte. “Nos dias de hoje estamos vulneráveis a outro tipo de tempo e acessibilidade à informação, e o estado é de inconformismo latente, motivo para estarmos seriamente comprometidos à experiência coletiva e sua relação com a força transformadora das qualidades artísticas”, completa Rodrigo Bueno.
Interview for the Goethe Institue Blog by Felicitas Roden
http://blog.goethe.de/studiovisits/archives/42-Interview-06-Rodrigo-Bueno.html
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Por Julia Buenaventura
Durante los últimos seis meses, asistí al crecimiento de una sillas de la serie/instalación que Rodrigo Bueno ha denominado Mobiliario Tomado, parte de la exposición Matuto al Cubo, hoy en la galería estudiobuck de São Paulo. La silla en cuestión es típica de tía, estilo francés, sus paticas arqueadas se van afinando hasta tocar el suelo, tal como si estuviera empinándose para minimizar su contacto con el mundo, y una tapicería florida de verdes, fucsias y violetas le brinda su distintivo.
En ires y venires, la silla fue a para a un basurero y del basurero fue al taller de Rodrigo, quien sembró entre la vegetación bordada, algunas plantas reales cuya característica principal está en copiar, repetir o reproducir los tonos del tapiz, creando una fusión cromática y proponiendo, con ello, un juego de tiempo y representación. En esta obra son las plantas reales las que copian el dibujo, no es el dibujo, entonces, el que copia la realidad.
Entre los otros muebles que componen la instalación, hay un sillón rojo encendido que lleva una bromelia verde justo en la cabecera, lo que establece un nuevo diálogo cromático, esta vez por contraste y no por similitud. Opuestos, el rojo y verde se rechazan y se atraen, se detestan y se quieren, pues cuánto de rojo es necesario ponerle a un verde para tomar consistencia y viceversa. Un sofá marrón de tres puestos sirve de receptáculo a unas plantas cuyos tallos delgados se extienden hacia lo alto, a la vez que, con el peso de su tierra, llevan el mueble hacia abajo, casi hasta volverlo suelo. Par de direcciones que confunden la percepción, bien se trata de un objeto que, sin dejar de ser el mismo, merece dos descripciones: pesado como un mamut y liviano como libélula.
Mobilia Tomada –y el trabajo de Rodrigo Bueno en general— me hace pensar en una estrecha relación con la Naturaleza Muerta, género humilde, en el último grado de la jerarquía renacentista que seguía el árbol de Porfirio, especie de pirámide que planteaba un orden de valor para las obras representativas. Así, primero estaban los temas históricos y los actos estatales, seguidos de los retratos, para luego dar paso a los paisajes, teniendo en último lugar los bodegones, pinturas de objetos inanimados que, además de no tener alma, se mantenían inmóviles (muertos) durante el tiempo de ejecución de la obra.
Ahora bien, este menor grado jerárquico, el lugar más alejado de lo solemne que le es propio a los temas mundanos, permitió introducir en la naturaleza muerta, algún grado de desorden, una espontaneidad de lo cotidiano; los recipientes para la Comunión de Taddeo Gaddi en el XIV, pierden la reverencia al aparecer dispuestos tal como si fueran utensilios de cocina. De esta forma, las naturalezas muertas consiguieron proponer un tiempo que se da como el revés del cuadro histórico, pues mientras éste trataba del instante cumbre del devenir, ella presentaba lo ordinario y pasajero, un presente que se develaba como transformación constante. Tipo de tiempo mundano que, en el XVII, se convirtió en advertencia, el bodegón descubría las vanidades del mundo terreno, siempre surgidas de la ilusión tener por eterno lo pasajero, y, más aún, la fatuidad del arte, de esos engaños coloridos que acostumbran pasar por imágenes perennes. Desde la hoja marchita y la flor envejecida hasta la calavera, la naturaleza muerta se presenta como transcurso.
Mobilia Tomada se relaciona con el género, ahora bien, más que una cuestión de tema –hojas, flores y receptáculos–, por una cuestión de tiempo, ese condición mutable se hace tangible. Las plantas ahora vivas, no representaciones, dejan su condición de muertas, inmóviles, emprendiendo una avanzada que acabará en transformación. Al frente de una de las sillas de Bueno, es difícil no tejer una conjetura temporal: de un lado, la memoria del objeto, lo que fue, de otro, la proyección de lo que será cuando esté completamente tomado.
Conjetura que deviene de la dislocación del lugar, la planta se hace perceptible por la extrañeza del territorio que habita –un cojín, la cabecera de un sillón–, anomalía que lleva a reparar en su avanzada, y más aún en el mismo proceso del mueble que está siendo invadido y que, de seguir así, no dejará ni su polvo. O mejor, su polvo ha de convertirse en planta, en ramaje, lo que, extendiéndome en su pasado de árbol, ese mueble fue alguna vez.
Las composiciones de madera, en otra sección de la muestra, establecen una relación con ese pasado. Ensamblajes de tablas que recuerdan al Movimiento Concreto del Brasil de los años 50, pero que, a diferencia de éste,
en vez de regularizar las partes convirtiéndolas en patrón, enfatizan sus singularidades. Cada uno de los fragmentos articulados muestra sus características, el camino de la madera, revelando tanto en el hecho de haber sido, alguna vez, un mueble, como en el hecho de haber sido, alguna vez, un árbol; los cortes recuerdan el taller del carpintero, mientras las betas una antigua condición de rama. De lo que deviene en un Concreto espontáneo, o un concreto anti-concreto, en el que la memoria se sobrepone al futuro.
Relación con la memoria trabajada por el artista en otras obras y por otras vías. En la exposición realizada en agosto de 2012, con curaduría de Felipe Chaimovich en el Museo de Arte Moderno de São Paulo, Bueno proyectó una intervención que giraba en torno a los dioses africanos o orixás. En ella, un círculo de diversos objetos –alimentos, jarras, plateas, frutas, conchas, metales, plantas– ubicados directamente en el suelo, sin mesa, sin pedestal, estaban organizados por segmentos correspondientes a un orixá determinado, lo que implicaba una disposición cromática, pues, tal como explica Rodrigo, cada una de estas deidades tiene tonos específicos, así, mientras Oxúm se va por los dorados, a Iemanjá le gusta el blanco. En Brasil esto hace parte del día a día, el 31 de diciembre es costumbre vestirse de blanco y dar flores blancas al mar, ya que la bienvenida del nuevo año se funde con la acción de agradecimientos y pedidos a Iemanjá.
Es curioso, las naturalezas muertas griegas nacieron de las dádivas a los dioses, se trataba de representaciones nacidas de la ofrenda. Así volvemos una vez más al género, pero ya no por la advertencia del tiempo que transcurre y se evapora del barroco, sino por el tiempo ritual capaz de anular la sucesión para condensarla en un presente pleno que es el mismo del origen, en donde esos elementos cotidianos cobran un carácter sagrado, sin dejar de ser cotidianos, pasajeros: plantas, frutas, recipientes.
La obra de este artista brasilero lleva implícita una propuesta de tiempo: sea transformación continua, sea momento ritual. Lo ordinario y lo sagrado muestran su vínculo, en un tipo de transcurrir reversible tal como lo es el rito que vuelve sobre el origen, tal como lo es el ciclo cuyo inicio es su mismo fin.
En efecto, no era solo una cuestión de tema lo que opuso durante siglos al cuadro histórico y al bodegón, era una concepción de tiempo. No era tanto el bodegón el que ocupaba el último grado de importancia jerárquica, era el tiempo que él implicaba –y que fue restringido a la advertencia– lo que dio paso a esa hegemonía del tiempo histórico, irreversible, y por tanto, obsesionado con el futuro. Futuro que nunca llegando, se hace insaciable: produce su propio consumo sin jamás poder hartarse. Si bien ya no tenemos esa jerarquía en los géneros de la pintura, porque ya no existen los géneros, sí que la tenemos en la vida cotidiana, en nuestra concepción de ruta tanto individual como colectiva.
La obra de Rodrigo Bueno es una grieta por la que se inmiscuye ese tiempo jerárquicamente arrinconado, acorralado, el tiempo del ciclo y del ritual, cuyos resquicios quedaron en el bodegón como advertencias jamás advertidas. En ella se abre la posibilidad de otro tiempo, ahora condensado en una silla que avanza yendo en reversa, de un lado, porque sus plantas reales, copian sus propios retratos al repetir los colores, de otro, porque su madera después de haber sido mueble, quiere convertirse en árbol.
Entrevista de Rodrigo Bueno para Santiago Garcia, para 28a Bienal SP
Porque vincular pessoas que produzem e transitam outros circuitos – como o do Hip Hop, a cultura espiritual afro-indígena- com o espaço da Bienal?
A bienal se propõe ao vivo contato, o que remete a relações criativas com o mundo como ele é. Hip Hop é o nome recente para o conjunto integrado de manifestações de cultura de rua antes de ser reduzido pela indústria da comunicação. Representa o constante movimento inerente a qualquer sociedade urbana, que ao se renovar, se nutre de sua ancestralidade na confluência dos elementos de música, poesia, dança e as artes visuais. Tudo baseado na afirmação do tempo presente. É uma grande fonte de códigos mestiços e novas linguagens sociais.
A herança afro-indígena forma o alicerce oculto da cultura brasileira além de suas premissas políticas. Somos um conglomerado de nações mestiças esparsas pelo continente, constantemente trabalhando para sustentar os desperdícios de um sistema econômico ainda pouco associado à cultura de costumes. O trabalho reelabora a reciclagem de resíduos materiais e intangíveis, convertidos em ferramentas de encontro, focado na celebração da criatividade. A valorização da natureza e a sensibilização do espaço urbano, são correntes de resistência, de reencontro do homem com sua própria origem.
Como você entende a idéia de origem?
A origem é o ponto neutro, o potencial pleno de possibilidades de desdobramentos em tempo presente. O passado está ativo enquanto somos resultado histórico inacabado, em movimento. Negar o que já passou, dissimular o fundamento de onde pisamos, é interromper o fluxo de nossa própria criação, é nos colocar de fora da autonomia de escolha do nosso destino. Portanto, origem é vista como força motora, transbordamento e fertilização de território. Além de estereótipos raciais, a busca da origem sugere a troca, a vivência com a identidade de nossos sentidos mais íntimos e generosos, em relação ao outro e ao entorno.
Que entende você pela “mata anterior” e a “memória interior”? Que lugar ocupam a natureza e o corpo na vida de uma urbe como São Paulo?
A “mata anterior” é a força verde que rompe o asfalto, fonte de inspiração que ameaça o concreto do monumento efêmero. É a vitalidade do solo que come de volta a cidade que o engoliu. A “memória interior” é o olhar, o sentimento intuitivo que descreve a identidade do que compõe o ambiente cotidiano. Cada resíduo que é desperdiçado nas caçambas da cidade contém uma memória interior, reflexo de nós mesmos, espelho de nossa relação com o planeta e os valores que sustentam a contemporaneidade.
Qual diria você que é sua genealogia artística?
Os registros dos artistas viajantes são grande fonte de reflexão que ressoam ainda hoje em minha busca por um ambiente vivo. Como em uma sala de espelhos, insisto em desarmar o que o olhar colonizado chama de exótico, ao construir pontes de pertencimento através da experiência comum.
Minha formação vem mais da prática artística fora do circuito das artes, interessado na vida em diferentes frentes periféricas, na conjunção de elementos criativos na criatividade essencial para sobrevivência. Me instiga muito o movimento da renovação do papel da arte, meio ambiente e arquitetura na linha de pesquisa de Hundertwasser e Lina Bo Bardi. Começo a conhecer o legado dos artistas dos anos sessenta e setenta, com especial afinidade a Oiticica e Clark. Tais referências já anunciavam ao momento contemporâneo. Porém hoje nos alimentamos de outro tipo de tempo e acessibilidade a informação, onde o inconformismo com o consumismo cotidiano, do autoritarismo da especulação imobiliária, nos motiva seriamente expor as tramas da experiência coletiva, intimamente ligadas a crise ambiental e sua relação com a força transformadora das qualidades artísticas.
#terreiro
Links
http://blog.goethe.de/studiovisits/archives/42-Interview-06-Rodrigo-Bueno.html
http://msn.lilianpacce.com.br/e-mais/reciclese/rodrigo-bueno-exposicao-estudio-buck/
Conta Aí ! # 10 – Rodrigo Bueno (Ateliê Mata Adentro) – artista plástico
https://www.youtube.com/watch?v=o9NKF_cmS1E
Rodrigo Bueno [Criança é Vida 15 anos]
https://www.youtube.com/watch?v=wulHwlfIaeQ
https://epocasaopaulo.globo.com/vida-urbana/artista-da-dicas-para-reciclar-madeira/
https://blogs.estadao.com.br/casa/jardim-reciclado/
https://www.sofiacarvalhosa.com.br/release_detalhe.aspx?id=39&cliente=186
https://www.zupi.com.br/matuto-ao-cubo-por-rodrigo-bueno/
https://www.jornaldaorla.com.br/materia-integra.asp?noticia=3320
Reporter eco-atelier transforma-artista plástico Rodrigo Bueno transforma uma oficina de carros em um atelier e reaproveita materiais descartados nas ruas e caçambas para confecção de moveis e obras de arte
http://cmais.com.br/cedoc/html/Videos_280269.html
https://forademoda.wordpress.com/2008/03/01/galeria-vermelho-tem-exposicao-
com-monica-nador-rodrigo-bueno-e-rafael-assef/
https://glamurama.uol.com.br/rodrigo-bueno-expoe-suas-obras-vivas-no-estudio-buck/
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0306200722.htm
https://www.ceagesp.gov.br/comunicacao/clipping/2012/setembro/estadao_casa_300912.pdf
https://entretenimento.uol.com.br/arte/bienal/ultnot/2008/10/30/ult6000u8.jhtm
https://veja.abril.com.br/190907/p_084.shtml
https://arteref.com/pintura/page/5/
https://resudaca.wordpress.com/2012/10/29/intercambio-sobre-o-reaproveitamento-criativo-de-residuos/
https://www.jblog.com.br/heloisatolipan.php?itemid=11740
https://www.mudacultural.com.br/2011/02/rodrigo-bueno-pinturas-e-instalacoes/
RODRIGO BUENO-SPFW 06/09
https://www.youtube.com/watch?v=JGHeCgqfXXM&list=UUQbZGpEgMrcO2g2aADdg0qQ&
index=4
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